Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Contigo digo-me, eu mesma!





Quando me digo contigo,
É como nadar nas águas limpas dum ribeiro,
mexer as pernas sem agitação
para que as águas não turvem,
o cantar dos pássaros  não se perturbe,
os peixinhos venham em cardume às minhas mãos,
me façam cócegas
e tu língua minha,
com palavras me venhas a curar do riso.

Deitada  nesse ribeiro, sobre o céu,
Vejo o céu real por cima,
azul infinito com castelos brancos
onde vou escrevendo com tinta
que dele sorvo.
 Assim fico.
Palavra atrás de palavra
que tu me vais ditando,
orquestra afinada de letras,
sensível som,
equilibrada entoação,
música de palavras que me embala
me faz dançar por dentro.

Uma nuvem está já cheia.
Passo para outra.
Uma partitura acabada.
Vira-se a folha.
Mais um violino a fingir que chora,
rouxinol na ponta dum ramo dum salgueiro,
mais sons, mais palavras,
mais cantares doutros passarinhos,
a água a correr,
o sangue a aquecer,
as palavras a nascer.
Mais peixes a espreitar o meu corpo nú,
eu escrevendo o céu,
deitada sobre o céu,
ribeiro de águas cristalinas de palavras,
contigo.

Uma brisa sacode as nuvens,
as palavras vêm voando em carreirinha,
fazem cascatas ao chegar,
ajeitam-se,
tomam o seu lugar,
juntam-se em escada,
caiem,
reorganizam-se,
umas vezes são de seda,
outras vezes de cantaria
e terra enregelada.

Contigo  digo-me,

 eu mesma!

sábado, 15 de outubro de 2016

Contigo




Rio Douro em Miranda do Douro-  Portugal


Na quietude do teu leito
faço a cama
e descanso das rotinas
que não suporto.

Há horas
que de tão inúteis me deslaçam
e há momentos
que me tonificam os sentidos.

No correr tumultuoso das tuas águas,
a poesia agita-se,
urge correr atrás de ti,
ás vezes tropeço, outras avanço,
outras há em que me perco.

Depois,
apanho-te dianteira na corrida,
cortaram-te o caminho,
de susto espumas
mas segues depois calmo, sonolento.

Enlaçam-te as pontes,
as gaivotas saúdam-te,
o mar abraça-te e vai-te levando
e é nesse ir que eu vou...
Contigo.
Mar fora,
agitando horas mortas...

Foto de Eduardo Domingues

Voo












Sou aquela que procura paz
E que nem sempre a encontra.
Sou um puzzel onde há uma peça
Que não encaixa.

Resvalo…
A custo levanto-me e continuo a resvalar.
Em tudo resvalo
No tempo que não tenho e no tempo que me sobra
Nos caminhos tortuosos e nas alamedas perfeitas
Nos rios limpos e
Nos pisos gelados e nos caminhos secos.
Resvalo...
E embato contra mim própria.
nos lagos lamacentos
Vasculho…
Há sempre algo que não encontro
Algo que se perdeu
Numa núvem de poeira.
Os olhos procuram, lacrimejantes
Em pestanejar constante.
Fixos e ausentes deixam de pestanejar
E de repente
Algo vislumbram
Num canto esquecido, amarelecido.
Será essa a peça que procuro
Aquela que me falta encaixar?
Tento arrancá-la à força
Mas não a posso despegar.
Desvio o olhar
E não há nada.
Caminho...
Continuo a minha vida
A paisagem onde falta
Um pedacinho de azul no céu.
Voo ...
Em direcção ao azul.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Cheiro com cores de especiarias


                                          Imagem da net



Há dias em que a chuva chega sem bater à porta, molha as soleiras e os parapeitos, a roupa do estendal que deixei enfeitado com cores de roupa de verão e leveza de esvoaçantes de festas. Vem e pronto. Quando dou conta já nada há a fazer. Aventuro-me à chuva para salvar algumas peças dos sopros do vento e, antes de concluir o intento, já estou como um pintainho acabado de sair da casca do ovo.

Há dias em que na cidade me faltam coisas que tenho no campo. O contrário também é verdadeiro.
Estivesse eu na aldeia e a chuva não me fintaria desta forma! O chão estava sequioso e, aos primeiros salpicos, despertar-me-ia os sentidos com o cheiro forte a terra molhada. Teria corrido para o estendal e deliciar-me-ia com o gotejar dos primeiros pingos e, passando debaixo do beiral, não levaria ainda com os riozinhos suspensos que me encharcam a cabeça até os miolos e me fazem arrepios nos ossos.

O cheiro a terra seca depois de ter sido salpicada levemente pelo primeiro borrasco,  traz-me a imagem de especiarias garridas, das que se podem ver nos mercados da Grécia, de Marrocos, da Turquia e tantos outros lugares como já vi também em Marselha num mercado de rua. Acho que aquele cheiro, se se pudesse identificar a cor dum cheiro, eu diria que seria vermelho, misturado com terra queimada e um pouco de laranja, de açafrão. Quente, forte, sensual. Da cor da terra em muitos sítios de África. Talvez a minha identificação de cor num cheiro, como muito quente, me venha mais desta terra do que propriamente das bancadas de especiarias que já vi em diversos lugares. Aromas cor de terra. Vermeilhos alaranjados.

Há tantas coisas que na aldeia me fazem tanta falta e que a cidade me dá. Quando chego venho faminta: De cinema, de concertos de música clássica ao ar livre tão frequentes nos jardins de Lisboa e Sintra durante o Verão ou em salas a preços mais convidativos, bailados, museus.
Sou um passarinho livre de campo, mas a cidade fascina-me e faz-me falta e, o mar é ópio que me leva para além dos limites da imaginação.

Há dias em que na cidade não sinto que a chuva me deva trazer o cheiro das cores quentes da terra quente e seca porque simplesmente a acho linda e abençoa e há dias de chuva que me pesam sobre os ombros toneladas.

sábado, 8 de outubro de 2016

Diz-me









Diz-me das brisas
que te fazem acordar
com um sorriso a cheirar a alfazema;
 diz-me dos sonhos
que te despertam o olhar
sem bocejos
a pedirem cafeína.

Caminho cambaleante
e passo pelo dia
sem lhe dar os bons dias.
Depois ele saúda-me
e segura a minha chávena de café
pelo aroma que me vai oferecendo
à medida que os reposteiros dos meus olhos
 se vão abrindo lentamente.

Diz-me porque adormeces
como  o vento a calar-se num sopro
e a vida a parar num momento.
Porque te enrolas na noite
como jasmim  na laranjeira
e nem em pesadelo cais no campo de alfazemas
que o romper do dia te oferece?

Bendita cafeína,
droga concentrada a indicar-me
o invisível caminho da manhã!...

Diz-me…

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