Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Caminhavas

Caminhavas pelo silêncio da noite, empurrada pelo vento gelado a aligeirar-te o cansaço.
Ias sozinha, como sempre foste, como sempre irás quando o pulsar do querer se acender nas tuas veias. Carregavas na mochila a cadeira descartável para poderes abrir quando as núvens descessem e te levassem para mais perto do sol, para te sentires mais quente.
Hei-las!, disseste.
Tiraste a cadeira da mochila, e, num gesto lento, para que o vítrio braço não partisse, montaste a cadeira e sentaste-te. O gelo que te cobria o corpo estalou e os estalidos quebraram o silêncio da noite.
Dali a pouco as núvens desceram rente aos teus pés, algodão doce das feiras, e tu partiste sentada na cadeira, naquele manto de esperança, subindo, subindo.
Mais perto do sol, o teu corpo foi aquecendo e, na terra gelada e seca donde havias há instantes saído, pequenas gotas de chuva, formadas pelo choro do degelo do teu corpo foram caindo, primeiro espaçadas, depois chovendo copiosamente.
Chegou-te o odor a terra molhada, como se fosse verão, daqueles verões escaldantes que só as trovoadas refrescam.
Sim, tu sabias que era inverno. Ainda tinhas no corpo manchas roxas provocadas pelo gelo e, na ponta dos dedos a dor de teres aquecido bruscamente. Sabias que era inverno, naquele seco estio precoce sem prenúncio de primavera.
As núvens deslaçaram, agora já são rarefeitas. Tu continuavas sentada na cadeira, a olhar o sol, sol que já descia à terra e lhe levantava folhos de neblina ténue, sinal de que a secura já tinha sido engolida pela chuva.
Olhaste para baixo e viste que a primavera te acenava com as folhagens verdes e pequenos botões de flores, prontos a abrir.
Pediste às núvens que te descessem. Dobraste a cadeira, meteste-a na mochila e caminhaste em direcção à vida que lentamente começava a florir nos campos verdes.
Eu, na escuridão do quarto, aconcheguei o lençol de flanela ao rosto, dei meia volta e desliguei-me da tua caminhada.
Quando o tecido da cortina se bordou de luz, espraiei o olhar pelos campos taciturnos, cinzentos, cobertos de geada, secos. 
Ali em frente, pastavam ovelhas, a sangrar na ponta dos focinhos por tentarem colher a erva verde, escondida por baixo dos silvedos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Rasgos

Quero rasgar as vestes que me tapam
Para me despir e vestir de novo.
Quero arrancar as linhas e os pespontos
Para que as vestes aos pés me caiam
Para que despida eu consiga ser

Queimem-se as vestes
Já que rasgá-las não ouso
Para das cinzas fazer a voz que calo
E lançá-la ao vento em estridentes gritos
Rasgos da alma em todo o meu querer

Tantas vezes quero e o querer se me tolhe
Tento rasgar e o pano não cede
Tento descoser e as mãos me tremem
Tantas vezes sou o que afinal não quero
Tantas vezes quero o que não ouso ser

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quisera eu ter sapatos!

Quisera eu ter sapatos
para que a alma me não doesse!

Caminho pelos mesmos trilhos
dias seguidos, sem tirar nem pôr...
Porque será que há dias
que os pés se enchem de feridas
e noutros 
nem um pequeno rubor!?

Quisera ao menos ter sabrinas
já que sapatos não tenho!

Caminho pelos mesmos trilhos
ou em carreiros que invento...
Porque será que há dias
que os meus pés são lamentos
e noutros...
frescura de flor!?

Como os meus pés anda a alma
o coração e eu toda...
Em cima de calhaus pisando
e quando os pés estão sangrando
não há nada que não doa.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Semeado de papoilas

Rebentam-te primaveras
quando te lanço borboletas
a voar sobre o teu corpo
e o semeio de papoilas
com as sementes do poema
a saltarem dos meus dedos

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