Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Se ao menos tu estivesses aqui!

Se ao menos estivesses aqui!

Deixaste-me uma mensagem escrita
numa folha de papiro
lá no meio do pântano.
Para mim o pântano é intransponível
e à mensagem nunca chegarei.
Chegavas tu,
porque de ousadia e força,
a natureza te dotou.
E eu o que sou?

Uma teia de aranha,
onde desenhei sonhos com toques leves
desfeita pelas bolas de granizo.
Se ao menos tu estivesses aqui
para reparares o rombo nas sedas!

Se ao menos aquela lágrima peregrina
que te desceu derradeira
tivesse caído nas minhas mãos!
Nelas passaria a língua para,
com o sal restabelecer as minhas forças.

Deixaste-me trilhos nas savanas
onde os teus pés deram ais.
O capim cresceu
e, dos teus trilhos nem sinais.

Resta-me o resto do gin,
no fundo da garrafa,
a evaporar aos poucos,
aquele que a falta de tempo nos deixou.

Resta-me a lembrança do teu olhar doce
a amenizar o trilho por entre tojos e silvas.
Se ao menos tu estivesses aqui!...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pássaro de asas feridas II

Pássaros que andais pelas núvens
dizei-me que tempo está aí!
Muito longe ando eu
e, de tão ocupada andar
nem me dá para imaginar
que tempo estará aí!

Em voos altos subis
E eu nem chego a esvoaçar!
Tenho os pés presos no chão
e a mente a enturvar.

Dizei-me se há arco-íris,
colorido a alumiar.
Dizei-me se há gotas de orvalho
com que me possa molhar.

Dizei-me se aí haverá
uma nuvem onde me deite,
alva que nem roupa lavada,
à cora a branquear.
Tenho uma nuvem tão escura
onde,
 não sou capaz de dormir
 nem sequer descansar.

Pássaros que voais no céu
levai-me para junto de vós,
porque eu
já esqueci o voar.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Fiquei...

No orifício lacrimal
vive uma lágrima indecisa.
Não sabe se há-de cair
ou cristalizar lá dentro
por achar
que os urdidores da manta
não merecem esta lágrima,
mais esta lágrima.

Durante a noite,
recostada no seu cantinho salgado
sonhou que era uma pérola.

Pé ante pé, para não me acordar,
deslizou pelo meu peito
e foi aninhar-se na minha mão contraída,
que fechada, dormia.

A mão ao senti-la
fez-se concha
e para espanto daquela lágrima,
na minha mão floriu

um colar de pérolas
dum branco marfim.

Quando acordou do sonho,
desiludida

por nunca ter sido pérola,
fez-se em cristais de sal.
Ao lavar o rosto,
senti um sabor salgado
e senti-me entregue
a algumas pérolas
e...
às minhas lágrimas.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boca calada, dizia o monstro!

Nadava gracioso, o peixe com suas barbatanas tanto mais coloridas quanto mais as abria, escamas brilhantes e de cores vivas, como tela montada num cavalete que aos poucos ganha céu e mar.
O mar onde nadava era verde com reflexos azuis do céu que lhe morava em cima. Nas algas buscava os verdes da natureza e, nos corais, ia buscar tons de pôr do sol, com que completava a pintura. De boquinha aberta ia cantando e, depois de concluir a melodia, fechava os lábios e, com os dentinhos, segurava os pincéis. Com as barbatanas laterais, ondulantes, dava pinceladas com movimento.
Depois, havia um monstro para fechar a boquinha ao peixe, o peixe imbecil que só fazia inutilidades, voluntarioso, o peixe que até tinha vontade e voz próprias.
Uma jamanta de barbatanas viscosas, ondulante, pegajosa, ia-se colando ao monstro como lapa em rochedo. Abanava a cabeça, sempre a concordar com tudo o que o monstro queria. Detestava a jamanta, o peixinho, a jamanta melosa, ranhosa, superficial e fútil, sempre armada aos cucos que por cima da água voavam, ainda que fosse feia como um peixe sapo. Tinha a cara como um sapo concheiro, aquela jamanta!
Quanto mais a jamanta se enrolava ao monstro mais o monstro obrigava o peixe a fechar a boca. Se não calares a boca rebento-te, disse-lhe um dia. E o peixe foi deixando de dar opiniões: doutros peixes, da cor dos corais, do cheiro das algas verdes, de Neptuno rei de todos, das leis do reino das águas, de tudo.
Mas o peixe continuou a pintar telas com as algas e os corais e nunca se submeteu à vontade do monstro. Boquinha semi-aberta, a segurar os pincéis com os dentinhos, ali ia ele até aos bancos de corais, em busca de sonhos.

Corto o vento, sugo a neblina

Há dias
em que o vento me arranca os cabelos
e o frio me reduz o pensar;
há dias
em que a neblina me confunde a visão,
me põe a mente em turbilhão,
a alma doente
e a pele a tiritar.

Há dias sim
e,
há dias infinitamente mais não.

Há dias que entristecendo-me
até ao mais ínfimo vestígio de vida em mim,
ao mesmo tempo me libertam
dum jugo
que me marca a carne,
e me atrofia o espírito.

O querer?
Não!, ninguém me tira
o querer que forte me sai em lufadas
como um tufão que em mim nasce.
O querer e também a razão.
Quando o querer e a razão me arrepanham as veias,
me esticam os tendões,
me espasmam os músculos
eu corto o vento,
sugo a neblina
e, sigo!

Sigo firme nos trilhos do meu caminho...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Pássaro de asas feridas

Tem as asas feridas
o pássaro que tão bem planava.

Um vento contrário soprou-lhe
contra o corpo em suspensão,
frio vento a parecer
de tempestade de granizo
e o pássaro de grande porte
de asas brancas, corpo forte
entrou em desiquilíbrio
e estatelou-se no chão.

As penas pesaram-lhe tanto
com o granizo ensopadas
que já nem asas pareciam.
O pássaro de grande porte,
sem forças e em desnorte,
entrou em doloroso pranto
e até os céus ensurdeciam.
.

Fez então descer as patas
para poder chegar a terra,
mas o pobre pássaro cansado
entrou em queda,
desamparado
e contra um rochedo projectado
ficou com as asas presas.

Tentou depois agitá-las
para poder reerguer-se
mas com asas assaz pesadas,
de sangue e granizo molhadas,
não foi capaz de mexer-se.

Está no alto do rochedo
o pássaro de grande porte!...
Mas um dia, o sol brilhará
 sangue e  água secará
e saindo desse degredo
voltará a ser
pássaro forte...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Contigo

Caiu a geada tão branca e tão fria
e os verdes da horta dobrados e frágeis
fizeram a vénia, ao sol que nascia.
A noite sem ti foi muito mais fria.

As lareiras lá em baixo, na aldeia envelhecida,
pedem que as aqueçam que lhes dêem vida
e aos poucos as casas são ovo a eclodir
e no cimo dos telhados, o fumo começa,
aos poucos, a subir.
O dia contigo tem outro fluir.

O sol ilumina os campos doridos
e os verdes da horta acordam e aos poucos
levantam as vestes, suas veste brancas
deslizam-lhes lágrimas, choram de alegria,
retemperam forças para a noite fria.
Dedilhando teclas, contemplo a paisagem,
e a aldeia deserta já deixa de o ser
e o dia contigo tem menos friagem.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pequenos nadas numa noite de dezembro


Sibila o vento ao bater contra as colunas de granito. Está fria a noite e, nem sequer o nariz me atrevo a mostrar à escuridão. Quase tirito só de o ouvir.
Olho a fogueira e a chama deambula pelos troncos.Em breve serão consumidos. As fagulhas, verdadeiras batalhas, entrelaçam-se em declaração de guerra aberta. Às vezes ouve-se um estalido. Sempre me intrigaram esses estalidos e, até hoje me interrogo se é efeito da combustão ou se, qualquer verme abrigado nas fibras vegetais da madeira a debater-se pela vida. Inclino-me mais para a primeira, já que o tronco ao arder fica todo ele demasiado quente e qualquer ser lá sucumbiria  rapidamente.
Estou nostálgica e melancólica. Por vezes fico neste estado de alma, sem aparentemente ter razão para isso. Por vezes a escrita ajuda-me a sair, outras nem por isso.
A sala está quente. Na cozinha há outra lareira acesa, esta à moda antiga, sem recuperador e, se por um lado a maior parte do calor se escapa pelo gargalo da chaminé, por outro, é lá que o estalar e as batalhas das fagulhas se tornam mais audíveis.
Poderia parecer óbvio que melhor me sentiria lá, mas não! Hoje sinto uma certa tranquilidade neste cantinho onde me sentei em silêncio que nem sequer é cortado pelos sons da televisão que mantenho religiosamente desligada. Só o vento lá fora me responde com a sua voz, para além de pequenos sons que me vão chegando da fogueira, vindos de drentro do vidro do recuperador.
Aqui estou.
Em breve terei que encher de toros a caldeira, para ardérem noite dentro.

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