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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Com os cabelos de oiro

Estava careca como nunca estivera antes, tão amarela como se fosse Outono.
Até lá, crescera como se respirasse trópicos com a voracidade de jovem a ondular a saia; de tanto desejar passou do limite, cresceu em volúpia, comeu terra alheia.
Crescia viçosa como se respirasse o Equador. Naquele crescer ultrapassou as regras, engrossou raízes, em pátios foi toupeira à procura de mais alimento.
Sem que alguma vez lhe tivesse passado pela ideia, foi-lhe cortada uma raíz da grossura de um ramo, aquela com que se aventurara a comer o que não lhe pertencia, aquela com que ao passar levantou o pavimento do pátio.
Floriu como nunca, dizia eu. Depois percebi que a quantidade das flores não aumentara o que tinha aumentado era a calvíce. Foi o declício, caiu-lhe o cabelo aos montes. Cada vez que a brisa lhe passava as mãos pelos cabelos era vê-lo a soltar-se, loiro cheio de pólen.
Um choque vitamínico foi-lhe prescrito para lhe salvar a vida.
Faz-me falta ali, ao sair da cozinha, para a ver logo que me levanto, verde, brilhante, bela. Com ela viajo para longe, respiro outros ares, deito-me em praias quentes e desertas. É por isso que a cada passo lhe ponho as vitaminas no prato para, a todo o custo a salvar.
Rebentos tenros começam a surgir, esperançados de que irão cobrir aquele tronco nú.
No diário que escreve, relativamente ao dia 7 de Outubro, lia-se. “ Hoje sofri o maior horror da minha vida e que me marcará para sempre; sofri uma mutilação atroz. Provavelmente sucumbirei a uma hemorragia ou a uma infecção e, no caso de sobreviver talvez não mais possa dar frutos.
Se não resistir ao golpe que me infringiram, levem ao menos as minhas cinzas para África, de onde nunca deveria ter saído, onde as minhas irmãs continuam a crescer livremente, sem que em cima das suas raízes lhes plantem pátios de cimento com um palmo de espessura.”
Quando acabei de ler, olhei para cima e reparei que havia já pequenos frutos de abacate a formarem-se e que as folhas começavam a encher-lhe as suas vaidades.
Talvez os frutos ainda se desprendam por tão fraca estar a mãe. Quem sabe...

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