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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O colete de forças

São profundos os vales, são íngremes e escarpadas as encostas. A escassa brisa que tímida corre não lhe chega aos pulmões, na quantidade desejável. Nestes sítios sente-se como no Metro em hora de ponta.
Quer ver um campo aberto onde os seus olhos se espraiem, onde a luz lhe cegue os olhos, onde o céu se mostre na sua plenitude.
Sempre lhe faltou o ar nestes vales profundos. Ainda se lembra da tarde húmida em que teve a sensação de que o mundo lhe cairia em cima como um torpedo, lhe esmagaria a cabeça, naqueles lugares da ilha da Madeira que achou espantosos no cimo mas que odiou quando lá no fundo, só viu montes com uma pequena nesga de céu por cima.

Quero céu, quero terra a perder de vista no planalto ou que seja no pico mais alto do monte onde os meus olhos possam caminhar livremente. Que faço aqui eu neste fim de mundo? Quem me lançou neste inferno que abomino, perguntou Inês furiosa.

Gritou. O mais alto que as cordas vocais puderam e os pulmões lhe deram fôlego.
Nos locais fundos, a sua mente sente que o ar é rarefeito. A sua mente, sim, tudo está na sua cabeça, porque afinal o ar é cada vez mais rarefeito à medida que subimos. Como pode faltar o ar só porque se está no fundo?
Gritou e, aquele grito fez ecos e mais ecos de encontro às montanhas que, dispostas em círculo imperfeito, poderia muito bem, estar ali uma lagoa. Antes estivesse, ao menos chapinhava na água. Ecos, muitos ecos da sua voz, em ondas de som cada vez mais fraco. Gritou mais vezes, gritos espaçados de poucos segundos e, os ecos multiplicados pareciam gritos de almas que haviam sido deportadas para aquele buraco, para se redimirem dos pecados.
Tantas, tantas almas a gritar!
Não sentiu medo, antes sufoco. Arrancou da sebe um pau liso que lhe serviu de apoio para subir o monte e, sem olhar para trás, galgou-o o mais rápido que pode.
Finalmente o céu aberto, as árvores a esvoaçar livremente, o ar a entrar nos pulmões até o fundo, as cigarras a descansarem as asas, ela a livrar-se do colete de forças que lhe apertava as costelas e aos poucos a asfixiava.

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