Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Desta noite

Desta noite, pouco mais resta que o torpor dos meus pés arrastados pelo tempo que os impede de correr e que em mais não são capazes de se dar, que em passos lassos.
Desta noite pouco mais resta que o medo que as gentes sentem das águas que galgam pontes, destroem caminhos, inundam sonhos e suores de uma vida inteira.
Respirou leve o vento e, por agora deixou de sibilar, envergonhado pelo medo que provocou à minha cabeleira arrepiada quando, num acto de coragem tentou roubar-lhe as asas para com elas voar. Ah, mas as asas do vento, de tão violento o vento ser, perderam as penas que, voando para longe se foram acoitar nos destroços das árvores despedaçadas que fizeram diques no ribeiro. As penas das asas do vento pararam, juntamente com os escassos haveres da pobre gente e lá ficaram; em vez de asas, usou redes de aço, de nós juntos e, tudo arrancam, tudo levam.
Desta noite pouco mais resta que um leve bater do coração, um coração arritmado, desejoso de adormecer e com o seu sono, arrastar para o suicídio até às mais ínfimas partes, o corpo e a alma, para que se imolem em labaredas de fogo viperinas, num suicídio colectivo. Quer matar-se, mas matar-se por amor e a seguir renascer, sem mácula e fresco como a laranja acabada de colher, forte como o castanheiro que resistiu firme à noite de vendaval.
Desta noite pouco mais me resta que um turbilhão de sentires, agora que o vento me devolveu o silêncio, quebrado pelo tic-tac do relógio que eu desejo parado, e que eu desejo que de outro ponto da casa não me chegasse o som da televisão. É por isso que gosto de me deitar com a madrugada a caminhar para a aurora e assim dispor do silêncio pleno, apenas quebrado pelo som dos meus dedos a bater nas teclas, em melodia sincronizada com os impulsos que da minha mente se evadem, libertinos.
Desta noite, depois que as nuvens deixaram de chorar, resto eu, nesta sala aquecida, olhando o exterior através das janelas e nada vendo que não sejam imagens reflectidas nos vidros de tudo quanto na sala existe, incluindo o reflexo da minha própria imagem um pouco nostálgica, boina preta a descair para o lado direito.
Desta noite, resta a humidade fria dos lamaçais, o uivo dos lobos no monte aqui em cima, a raposa que desce à aldeia a visitar uma capoeira aonde possa entrar.
Desta noite,...não sei se eu própria resto...

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